A Montanha V
- Tudo passa, tudo passou, tudo tem mesmo um fim, ou continuação daquilo que restou!
- Do que restou, do que sobrou ou ainda rendeu...
- D'aqueles tempos de outrora, ainda debaixo de uma paineira, já com as bagas estourando e lá do alto dela ver caindo painas, e a meninada juntando-as para que fosse confeccionado travesseiro para dormir.
- Com o passar do tempo, iam ficando as bolinhas dentro dele, eram as sementes da paineira.
- Dormir no colchão de palha... Durma com um barulho desse!
- Divertido era por demais, mas, as coisas estavam se afunilando, a vida da roça era muito difícil, ora sol , ora chuva, ora ventos, ora frio, ora calor.
- Tudo tem sua hora.
- Até a hora de apartar o gado. Buscá-los lá na serra à tardinha e prendê-las no curral para a ordenha na manhã.
- Os bezerrinhos menores ficavam num curral menor, para depois da ordenha, serem liberados, um a um. Incrível é que cada um conhece sua mãe, era só soltar o pequeno, que ele ia direto para as tetas de sua mãe.Formidável.
- Hora de dormir, por aqueles rincões, dezenove horas já estavam todos dormindo, pois, o dia foi cheio, trabalho um em cima do outro.
- Na fazenda é assim, tudo tem que se refazendo. Se carpiu uma área, d'aqui a uns trinta dias, tem que repetir, senão o mato cresce e aí ninguém consegue controlar. O negócio era na enxada mesmo.
- Dias, semanas e meses vão passando e está chegando a hora da escola. Sim, naqueles tempos, meu próprio pai já dizia " se voces não
estudarem, ficarão para sempre aqui neste buraco, serão chamados de peões".
- Aquilo batia muito forte em nós, pois, já tinhamos muitos exemplos por alé, de pessoas que passaram uma vida inteira lá na roça, labutando com os galhos, sem saber que a solução estava no tronco.
- Víamos muitos por alí, que , hoje penso: eles tiveram uma vida inteira de trabalhos na roça e porque nunca sairam dessa vida, não se vestem e não se calçam bem, estão sempre com suor forte nas roupas sujas, botinas às vezes furada na sola, ou rasgadas, desgastadas pelo tempo. Camisas manchadas e queimadas pelo sol e rasgadas pelo uso e desgaste natural. Pobres pessoas, que tentam levar a sério o país, mas, os que governam, nem enxergam estas pessoas. São marginalizadas literalmente, são cartas fora do baralho.
- Mas, deixa começar o período eleitoral, que já começam aparecer candidatos querendo o seu voto. Ah!, agora eles são considerados gente, os olhos da política estão vendo estes incríveis cidadãos, guerreiros, fortes, que lutam contra as pontas de facas.
- Aqueles dias de cutelo, machado, foices, enxadas e enxadões, cavocas, escavadeiras, alavancas, martelos , torquês, alicates e pregos , selas, arreios, cabrestos e colchonilhos e baixeiros, pelegos e estribos, estão prestes a se exaugirem, a vida na estância estava ficando sufocante, desgastante e enfadonha. Mas, era preciso planejar.
- Já estava chegando a hora de se pensar mais no futuro e aquelas palavras do velho pai, ecoavam nos ouvidos: "Voces virarão peões como estes aqui, se não forem estudar".
- Este era o seu conselho. Ele além de dono das terras, se virava de qualquer forma, mesmo na fazenda, montou uma pequena loja de tecidos na roça, depois, estudou por conta própria, e virou dentista prático. Era o conceito da época. Era ilegal, mas, na época somente atendia na roça e depois, como não havia fiscalização, montou um pequeno consultório na cidade, fazia de tudo: extrações, obturações, pontes móveis e dentaduras. Por incentivo o filho mais velho acabou se tornando odontólogo e vive disso.
- Por enquanto a montanha está lá, viva como nunca à espera de novos visitantes.
- Perder as esperanças jamais, perseverar sempre.
Abraços
ej...!!!