Os momentos Insólitos
- Naquele instante, às (20:58 pm) longe de tudo, longe do nada, ele está para colapsar. Levanta-se de sua cadeira de balanço, se arrasta até a sua geladeira a gaz e num olhar tristonho e incrédulo vê que acabou a sua cerveja.
- Não existe mais o que fazer, parece que tudo já está perdido.
- Imediatamente, como não lhe restava mais o que fazer, correu novamente para a sua geladeira, vê que ainda tem um velho champagne que restou do fim de ano. Abre e compulsivamente consome o líquido no gargalo mesmo. Não satisfeito, abriu ainda uma garrafa de vinho barato, tinto suave mesmo e sem nenhuma cerimônia senta-se na sua velha cadeira de balanço e alí fica apreciando o vinho barato, até a noite chegar ,é o que ele gosta.
- Lá pelas (23:59, pm), olha para o céu limpo e cheio de estrelas e percebe que estão cintilando, mas, ele, está com seus ânimos aguçados e parte para a experiência prática e vê que seu mundo já não é o mesmo de antes.
- Está muito só naquela casa enorme, não tem esposa, filhos e nem sequer um gato em casa.
- Somente os animais que rondam sua propriedade, lobos, onças, pacas, capivaras, roedores de todas as espécies, escorpiões, cobras, lagartixas, calangos e sapos. Sem falar nos insetos, marimbondos de fogo que resolveram edificar no beiral de sua casa.
- Ele agora está atolado em dificuldades , seu gado foi devorado pelas onças, seus porcos pelos lobos ou mordidos pelas centenas de cobras que por alí passeiam.
- Agora , não tem como sair de casa. Todos estão contra ele. Eis os motivos de sua desgraça. O mundo para ele não vale mais nada.
- Está com seus 80 anos e vê que já passou da curva e agora está em queda livre. Agora , com sua saúde quase debilitada, e ainda tomando todas, não espera mais nada desta vida e em uma ação Kamikase, tenta sobreviver por mais alguns anos e é só o que lhe resta.
- Queria chegar aos 100 anos, mas, dessa forma está bem difícil. Ficou entusiasmado com uma reportagem do National Geografic, que viu uma vez na cidade, onde tartarugas de Galapagos estavam com 120 anos e ainda, uma em cativeiro jazeu com 170 anos, em um outro país, que maravilha disse ele!
- Naquele instante de insight, deveria ter percebido que até seu vinho barato havia se acabado. Correu na adega, na esperança de encontrar alguma garrafa perdida no meio daquela bagunça no porão. Mas, foi baixo, não encontrou nada.
- O velho estava com a gota mesmo, lembrou-se que seu automóvel era movido a álcool (etanol)e naquele instante de insanidade, por um pequeno deslize pensou em beber aquela coisa, mas, foi até a sua garagem e tentou retirar do tanque, mas, como estava na reserva, quase não consegue retirar. Conseguiu apenas 500 ml,. Pegou aquilo despejou em um copo americano e encostou nos lábios, mas, aquilo queimava como pimenta malagueta em sua boca e nem conseguiu engolir. " Misericórdia" , disse ele, o que estou fazendo? isto é horrivel, nem sei com o motor aguenta isto. Só poderia estar ficando maluco mesmo. Motor é motor e pronto.
- O velho descarta aquilo e deixa por alí mesmo numa garrafa pet.
- Mas, nem tudo estava perdido, ele pega as chaves do Cadillac 50 , adaptado e se manda para a cidade em busca de algo para beber.
- Chegando na cidade o álcool acaba, o carro está a uns 500 metros do posto, então tenta empurrar o Cadillac, mas, estava pesado e os pneus meio vazios tornava ainda mais pesado, pois, não anda, se agarra no asfalto como cola. - Ele já estava todo molhado de suor, sua camisa ensopada, num sol de meio dia. As suas forças também que estavam na reserva, de repente se acabaram e ele cai de boca no chão . - De repente um moço lhe oferece ajuda e sem pestanejar agradece e o moço começa a empurrar o velho Cadillac e enfim chegaram no posto. - Pediu para abastecer , encheu o tanque que era de 50 litros. Ok. Agora está bonito. Tanque cheio. Mas, ainda não está resolvido, precisa encontrar ela. a "maldita" bebida, então encosta-se numa loja de Conveniências e observa o que tem de melhor. Tinha Whiskies, conhaques, pingas, cervejas etc... Resolve atacar naquilo que mais gosta, vinhos baratos. Pede logo duas caixas com doze unidades cada e volta para sua terrinha lá no campo.
- Agora o velho está com moral e assim que desce do Cadillac ano 50, uma onça o espera, e agora, como descer?
- Lembrou-se que possuia uma velha garrucha 22 no porta luvas , mas, tinha só uma bala. - A onça estava de olho nele e ele de olho nela e numa distância de 10 metros, ele ainda dentro do carro, mirou e "bum", pensou ,: matei a bichona, mas, quando a fumaça dissipou, não viu nada de onça no chão, ela se assustou e correu, então pensou ele: menos mal, não matei a onça, errei feio, mas, acertei na atitude.
- Agora sim, ele liga o carro e entra na garagem que ficava a uns vinte metros da casa. A garagem era uma cazinha de guardar os apretrechos, arreios, celas, coxonil, pelegos, estribos, enxadas, enxadão, cavocas , martelos e pregos, arame farpado e outras máquinas.
- No esteio do espigão da garagem haviam outras coisas dependuradas, além dos cachos de banana que ele guardava para amadurecer, como era de costume.
- Tinha pelo menos uns dez cachos de bananas e quase todos no ponto , mas, quem se divertiam mesmo eram os morcegos que sentindo o cheio da fruta madura, não perdoavam e devoravam quase tudo, eram centenas deles. - O velho de vez em quando ia lá e pegava uma penca e levava para a sua casa, mas, diariamente e rotineiramente a maioria se perdia.
- Isto posto, o velho foi para a sua casa e sentou-se na cadeira de balanço e desarrolhou um litro do vinho, acendeu um cigarro de palha e agora, como já tem bastante, tomou numa de suas velhas taças, que guardava desde o ano que passou, quando da última festividade.. Na realidade , festividade não era a palavra certa, pois, era somente ele, uma festa insólita.
- Naquele momento, era só ele e Deus.
- Naquela cercania, longe das luzes da cidade a sua casa não tinha energia elétrica, tudo era iluminado à luz de lamparinas à querozene e lampião a gaz. O arrebol estava no sua auge e logo logo viria o crepúsculos e a noite. Lá fora somente os urros das onças , o piado das corujas, o coaxar dos sapos e o cricrilar dos grilos, que de repente cessavam e este era o sinal de que algo maior estava por perto.
- Neste momento o velho também se aquietava no seu cantinho, esperando o que viria acontecer. Ele encontrou mais balas para a sua garrucha 22, que eram de duas balas e se agachou no apendre e ficou espreitando. Era apenas um lobo novo que passeava pela porta da casa. procurando comida, ele o espantou , então o lobinho foi-se embora.. - Passava da meia noite e o velhote, já quase bêbado, após uns três litros da bebida, foi-se deitar na rede armada do lado de fora. Ficou por alí naquela friagem do mês de julho e após os primeiros raios de sol, se despertou.
- foi até a cozinha, acendeu o fogão a lenha, colocou água para fever em uma chaleira para passar o café tradicional. Foi até o moinho manual, pegou uns grãos já devidamente torrados, moeu e levou para o coador que estava no bule, posto em cima do fogão.
- O velho coou o seu cafezinho, pegou uma caneca grande encheu com o café, e um torrão de rapadura e voltou para a sua velha e conhecida cadeira de balanço e acendeu o seu "porronca" - Nas alturas do campeonato, com o tempo já na segunda parte da prorrogação, o velho não queria mais nada além do que já tinha. - Passou os seus antigos oitenta anos só na roça trabalhando e agora só esperando a foice chegar. Fica alí na sua cadeira esperando a morte chegar. - Mas, enquanto não chega, ele consome o seu vinhozinho bem devagar...balançando na sua cadeira...e fumando porronca ...
Abraços ej...!!!