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O Escritor

Dia 25 de julho comemora-se o dia do escritor, Machado de Assis, foi um grande escritor brasileiro e deixou grandes obras maravilhosas para nós. Obrigado Machado de Assis.
 
Machado de Assis é reconhecidamente o maior escritor brasileiro, detentor de uma obra extensa em qualidade e sutileza, que ajudou nossas letras a se firmarem definitivamente dentro de essências e situações sociais tipicamente nacionais. Sua lavra é tão extensa que é difícil expor ao grande público as facetas mais profundas e diferentes em sua obra, especialmente as que fogem dos grandes clássicos, como: Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, e de sua obra prima: Dom Casmurro. No entanto, existe uma nuance do autor bastante desconhecida mesmo entre alguns estudiosos do escritor fluminense; seus contos de teor fantástico.  Isso mesmo, o mais aclamado autor brasileiro, representante máximo do clássico em nossas letras também foi um escritor de literatura fantástica! Aos que são apresentados a este fato inicialmente, parece ser algo incrédulo ou inventivo, porém, esta afirmação esta longe de ser enganosa. Machado de Assis era assumidamente admirador de Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, Edgar Alan Poe e Theóphile Gautier; sendo este último o mais influente nesta vertente da escrita de nosso autor. Quem primeiro observou esta característica na escrita do Bruxo do Cosme Velho, foi o crítico e escritor Raymundo Magalhães Jr. em seu livro Contos Fantásticos de Machado de Assis (1973). Dentro dos mais de duzentos contos do autor, foram detectados cerca de quinze legitimamente fantásticos, sendo tantos outros permeados pela fantasia, o horror, o maravilhoso, dentre outros gêneros que permeiam o primeiro citado.

Os primeiros contos fantásticos do escritor foram elaborados mesmo antes de sua estréia em literatura, com o livro de poemas Crisálidas (1864), e se estenderam até seu apogeu, com Dom Casmurro (1900). A documentação destes contos foi por demais difícil, dado sua publicação em folhetins e algumas vezes assinados pelo jovem escritor através de pseudônimos. Os principais meios para a divulgação destas criações foram o Jornal das Famílias e o jornal O Futuro. Segundo Magalhães Jr. os contos fantásticos em Machado de Assis são: O País das Quimeras (1862), O Anjo das Donzelas (1864), Um Sonho e Outro Sonho (1892), O Imortal (1862), O Anjo Rafael (1869), O Capitão Mendonça (1870), A Vida Eterna (1870), Mariana (1871), Decadência de Dois Grandes Homens (1873), A Chinela Turca (1875), Os Óculos de Pedro Antão (1874), Um Esqueleto (1875) Sem Olhos (1876), A Mulher Pálida (1881) e A Segunda Vida (1884). Como dito acima, existem tantos outros contos que contém passagens ligadas as fantásticos ou a gêneros próximos a este, além de aspectos recorrentes em outros autores como sadismo, loucura e/ou insanidade. Mesmo em seus romances, o leitmotiv do sonho/fantasia é recorrente nas narrativas, como quando Brás Cúbas tem seu delírio no inicio de Memórias Póstumas (um hipopótamo se metamorfoseia em um gato), ou então em Dom Casmurro, quando Bentinho delira com a possibilidade do Imperador intervir em sua ida ao seminário.

 
Machado seguiu o modelo francês de literatura fantástica, principalmente através de Gautier, seu autor preferido nesta escola. O principal opositor a esse estilo na época, idos do século XIX, era o fantástico inglês. O primeiro era mais suave, voltado ao sonho e alucinações. O fato sobrenatural estava situado entre o sonho/pesadelo e a realidade. Em contrapartida, os escritores ingleses voltavam suas temáticas para aspectos bem mais sombrios e pesados, como: loucura, vampirismo, pactos demoníacos, crimes punidos com castigos sobrenaturais e aparições de monstros e espectros. É nessa dualidade que se firma a principal característica do fantástico em Machado de Assis: o sonho/alucinação é quem constrói a ponte entre realidade e fantasia. O sobrenatural, para o autor, se dá quase exclusivamente no universo onírico. Porém, antes de seguir mais profundamente neste aspecto fundamental desta vertente, temos que teorizar em qual definição de fantástico o autor fluminense se orientava para construir seus cenários irreais.

Quando tratamos do fantástico desta perspectiva, analisando-o dentro dos contos de Machado de Assis, devemos perceber que falamos do século XIX. O gênero tinha sido criado no inicio deste século, os principais autores ainda atuavam na Europa, e seus textos vinham com poucos mêses ao Brasil. Em nossas terras, o fantástico em literatura ainda se instalava como um estilo novo e polêmico.  Daí a escolha do autor de Dom Casmurro pelo estilo francês de se fazer fantasia. Além do gosto pessoal, obvio, o público predominante dos folhetins era de donzelas. Seria muito pesado expor temáticas mais voltadas ao infernal e obscuro, tão recorrente nos escritores de língua inglesa. Voltando a teorização do fantástico, Machado seguia os moldes expostos por Tzvetan Todorov, em sua obra Introdução à Literatura Fantástica (1939). Segundo o estruturalista, a literatura fantástica só existia enquanto houvesse a hesitação, a dúvida do leitor se o fato sobrenatural era real ou fantasioso. Existe uma estrutura linear bem definida que conceitua muito bem este aspecto teórico: o enredo começa com uma aparente normalidade, de repente isso é mudado pela introdução de um fato de origem sobrenatural, entretanto o leitor (influenciado pela percepção do personagem) fica na dúvida se este acontecimento citado foi, ou não, sobrenatural. Por fim, tudo volta à normalidade e o acontecimento segue sem uma explicação clara. Essa estrutura básica segue em quase todas as obras de teor fantástico.

 
Os contos do bruxo seguiam a estrutura linear conceituada por Todorov, entretanto, sem perder características essenciais em sua obra, ou formar enredos sólidos e consistentes dentro de uma proposta determinada. A ponte entre real e sobrenatural é construída através do sonho/delírios dos personagens. A narrativa segue uma normalidade até que, inserido em um universo onírico, o leitor/personagem se vê diante de fatos irreais, misteriosos, cheios de angústia, inexplicáveis; o sobrenatural só passa quando o sonho se esvai e o mundo real se apresenta novamente. O fantástico se passa inteiramente no espaço onírico, entre a vigília e a sonolência. No meio do enredo, para que se faça o acontecimento irreal, o sonho sobrepõe à realidade. As temáticas mais recorrentes dentro dos contos do autor são: aventuras insólitas, encontros com cientistas loucos, viagens astrais e aparições de espectros e/ou seres imaginários. Para que se perceba com mais clareza como se dava este despertar para a realidade, após viver um fato insólito, leia o trecho abaixo, retirado do conto A Chinela Turca:

Duarte acompanhou o major até à porta, respirou ainda uma vez, apalpou-se, foi até à janela. Ignora-se o que pensou durante os primeiros minutos; mas, a cabo de um quarto de hora, eis o que ele dizia consigo: – Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco.
No trecho transcrito acima, o personagem agradece aos acontecimentos vividos durante o sono, de teor sobrenatural, claro, por salvar-lhe de uma noite tediosa onde se via forçado a escutar as crônicas de um major inconveniente. E ainda, pela lição aprendida durante esta sua desventura. Como já exposto, o momento marca exatamente a imersão do mundo sobrenatural de volta ao universo cotidiano. O meio das narrativas, que representam o ápice do fantástico no enredo, transportavam os personagens para as situações mais inusitadas, sendo um anjo que protege a virgindade de uma donzela, homens que se metamorfoseiam em animais, mulheres amadas que voltam dos mortos, itens dados em sonho que continuam existentes na realidade, ou seja, as mais inusitadas situações podem ser possíveis, e sempre ensinam uma lição a quem vive aquela experiência.


Outro aspecto de grande importância dentro deste contexto é a de o fantástico geralmente não ter explicação/justificativa, geralmente tudo passa com o despertar do personagem. Também vale afirmar que alguns dos aspectos mais característicos de Machado de Assis também estão presentes nesta nuance do escritor. Por exemplo, o uso da ironia e do sarcasmo como arma contra o fato insólito. Estes contos foram em sua maioria escritos durante a juventude do autor fluminense. Ali, ele estava em processo de construção de suas principais características literárias.  Logicamente, os principais aspectos que, mais tarde, seriam itens essenciais nos romances, foram estruturados neste período. Sua excelência literária já era evidente, porém, nitidamente passando por uma evolução.

Como nenhuma crítica substitui a própria experiência da leitura, procure estes contos, muitos deles presentes nas principais obras do autor, e avalie melhor estas características analisadas aqui. Perante a grande exposição atual da fantasia nas letras brasileiras, vale muito à pena conferir como ela surgiu, ainda no século XIX, auge do gênero do mundo, em nosso país. Só não se perca no mundo dos sonhos… créditos***(sérgio magalhães - Bahião de letras).


"Um escritor nunca some, quem some são os leitores, que deixam de fazer visitas ou comprar os seus livros" EJ...!!!
Ejedib
Enviado por Ejedib em 20/01/2020
Alterado em 20/01/2020
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