MENINOS DE RUA - FUTUROS HOMENS DE RUA
Elias João
31-03-2009
Vi outro dia uma reportagem da Rede Globo, que mostrou o tamanho descaso com a Educação de crianças no norte do Estado de Goiás. Confesso que após ver aquelas imagens eu não conseguia entender o “porque”, daquilo estar ainda acontecendo.
Obriguei a minha mente a retroceder a muitos anos atrás, eu tinha naquela época 6 anos de idade, portanto em 1966 para ser mais exato. Era rotina de nossa casa e de vizinho percorrermos quase 5 km, para irmos à escolinha de pau-a-pique, do mesmo jeitinho que mostraram na TV. Cobertura de palha de coqueiro, às vezes era coqueiro da Bahia, coqueiro macaúba (esta cobertas de espinhos), ou ainda o famoso côco babaçu. Mas, era o retrato da época, não tinha paredes e somente a cobertura e os bancos eram coletivos, feitos de tábuas serradas e o local de escrever era também feito de tábuas.
Mas, ver aquilo ali após esse tempo todo, é inacreditável. Gastam-se fortunas em campanhas políticas, carros novos, combustíveis, papeis, dinheiro pra lá e pra cá... Mas, como vemos lá na escolinha, estava faltando aquilo que era básico, faltava comida. Comida simples, um simples mingau de aveia ou trigo. Depois falta também o seu caderninho, o lápis , a régua etc...
Quando em época de campanhas políticas, eles estão por lá o tempo todo, isto é inaceitável. A TV denuncia, faz um excelente papel na sociedade, mas, as autoridades competentes precisam enxergarem os problemas do seu município, do seu estado, independentemente de ocorrer uma denúncia sobre falta de ações de governos. Afinal eles foram eleitos para administrarem os bens do município e do Estado.
O Brasil precisa urgentemente aplicar mais Recursos Federais na Educação e fiscalizar de forma rigorosa a execução de programas voltados para esta área específica.
Nunca existirá um país mais justo, se a educação não for levada a sério. Eu estudei numa daquelas escolas e na época não havia opção, mas, meus pais tiveram que mudar a sua rotina, para que nós pudéssemos ter estudos mais especializados. Eles eram fazendeiros, mas, mudaram-se para a cidade por conta de seus filhos, para que tivessem uma educação mais à altura das necessidades futuras. Todos sem exceção tiveram a educação adequada, evidentemente dentro dos padrões possíveis. Tivemos no início colégio particular nas séries pré- até a 4ª, e após isto fomos para um Estadual, e a competição era tanta que fomos obrigados a prestar o 1º vestibular, que era o antigo Exame de Admissão, e graças a Deus conseguimos ingressar na 5ª série, pois, fomos aprovados neste mini vestibular, era uma espécie de preleção, entrava na 5ª série, quem estivesse mais preparado...
Hoje, tenho a minha formatura em Direito, e exerço a profissão, além de ser um servidor público. Mas, não foi fácil chegar até aqui, mas, fico pensando : E aquelas crianças? Aquelas que se arrumam para ir até a escola e quando chega na mesma, o professor não comparece, e quando comparecer, tem que se desdobrar para atender duas turmas no mesmo recinto. Um ouve o que o outro fala do outro lado da linha imaginária, pois, não tem paredes dividindo as salas.
Quando ainda cursava o primeiro ano na Faculdade de Direito, participei do "Projeto Rondon" , de 1984. Naquela ocasião ainda existia escolas na zona ruaral no município de Minaçu-GO,onde presenciei de perto o descaso do governo, tanto estadual como municipal em relação às escolar da zona rural. Gente! voces não vão acreditar, mas, ví quando as crianças começaram a chegar, um saia de uma moita de capim, outros chegavam pela trilhas etc...
A professora se posicionava diante do quadro negro, dependurado no grande pé de manga que existia no quintal de uma velha casinha de barro amassado e pau a pique. As carteiras eram carteiras velhas e quebradas, sem apôio para o braço da criança.
Mas, o que eles poderiam fazer? Nada! Eles não tinha nada, mas, nada mesmo. Uns chegavam de pés descalços , outros melhorzinhos usavam uma sandália havaiana, outro um conga azul e assim por diante.
Estivemos no município por quinze dias, fotografamos e fizemos um relatório para ser entregue ao governo do estado de goiás, não sabemos se alguma coisa mudou, espero que depois desses anos, algo tenha melhorado.
O que será dessas crianças que não recebem uma educação adequada. O que será que se passa pela mente delas. Será que elas já sabem do seu futuro ou fica ali , como que fosse um boi no corredor da morte no abatedouro, sabendo que os seus colegas já se foram e aquele corredor comprido é um caminho sem volta e se tentar voltar, será imediatamente impedido pelo carrasco. Sabe até que irá morrer. Certa vez fiz uma triste visita a um desses abatedouros e era de dar dó , ver aqueles animais, gordinhos andando rumo ao final do corredor da morte, uns pareciam advinhar o que iria acontecer, outros aceitavam sem olhar para os lados, e chegando no final , lá estava o cara com o ferrão de choque elétrico que era aplicado bem na nuca do boi, então com a descarga elétrica ele caia...(._.), Nunca mais quis ver outra vez, pois é muito triste.
Mas, voltando ao texto:
As crianças daquelas regiões, dificilmente conseguem sair daquela situação, sem uma educação apropriada, sem incentivo das autoridades competentes.
A triste realidade de um povo miserável e que se contentam com o pouco que lhes dão, pois, não tem a quem recorrer. Não tem comida, hábitos higiênicos bucais e acabam perdendo os dentes ainda na adolescência, pois, não aprendeu nem mesmo escovar após as refeições. Mas, também escovar o que, pois, nem o que comer eles tem. Triste realidade de um estado tão rico com povos miseráveis, escravisados pelos próprios governantes. O Brasil em que nós vivemos é mesmo assim. Encontramos pessoas e mais pessoas necessitadas andando pelas ruas, sem rumo e sem um tostão furado nos bolsos. O que esta(s) pessoas(s) espera(am) da vida. O que a Sociedade pode esperar de indivíduos como esses. Diríamos: Nada.
É simplesmente um sujeito sem lenço e sem documento, praticamente ele não existe para o mundo. Está perdido no meio da ventania querendo agarrar-se às folhas secas e papeis que voam pelos ares meio a um redemoinho.
Então, digo algo a esta pessoa quando entrá-la. Diga que você já sofreu bastante também e que ela persista e lute, pois, um dia irá conseguir também. Então, difícil né.Difícil também sair alguma palavra que possa trazer conforto numa hora dessas.
Mas , a sociedade discrimina cada vez mais estas pessoas e não tem outro jeito, ou se acolhe ou discrimina. Até nós mesmo que estamos vivendo este problema em nossa cidade, às vezes torcemos o nariz para estas mesmas pessoas. Porém, nunca perguntamos a estas pessoas, porque estão naquela situação. O que aconteceu com a sua vida, com seus familiares etc...
Acolher é um ato extremamente difícil do ponto de vista econômico, e as condições do nosso poder público em lidar com situações semelhantes, é bastante precária, pois, de acordo com a visão deles (políticos), isto não tem retorno (voto), que em geral, são mendigos, são "Homens de Rua", que um dia foram "meninos e meninas de rua", pois é, cresceram e os problemas cresceram juntos com eles. E quem liga para "meninos ou meninas de rua". O que se pensa é apenas punir, pois, de modo geral são jovens, adolescentes infratores, muitos são viciados em drogas e alcool e o sexo rola solto...Somente faltam-lhes o Rock"in" Rool....No futuro serão adultos de rua, velhos de rua e somente deixarão de ser problemas, quando já não existir mais solução, já não tem mais forças para nada. Só lhes restarão um velho caixão de madeira branca e fraca, e somente o coveiro acompanhando e empurrando seu esquife, em sua última jornada, pois, a morte será a sua única certeza e ali serão enterradas as suas desilusões, os seus sonhos jamais sonhados e os sonhados e não realizados. O único caminho a seguir será o caminho sem volta, direto para o cemitério e alí descansará eternamente e um pouco de paz. Trabalho, nunca tiveram, nunca tiveram uma carteira assinada, nunca tiveram um contra-cheque, nunca tiveram um holerite, nunca foram correntistas de um banco, nunca tiveram uma carteira de saúde, nunca tiveram o privilégio de dirigir um carro e nem mesmo uma bicicleta, e por mais velha que fosse, nunca tiveram a oportunidade de pedir uma conta a um garçon, pois, jamais sentou-se em uma lanchonete a saborear um pão com presunto e queijo, por mais simples que lhes parecessem ou um "x tudo" da vida, jamais teve a oportunidade de abrir uma latinha de refrigerante, pois, lhe faltou um mísero real em suas pobres mãos sujas e calejadas pelo próprio ócio, pois, nunca teve esta oportunidade de um trabalho digno; nunca foram a uma escola, nem mesmo quando estava sendo construída e se assim fosse, seria talves um pedreiro, que são homens de bem, e que erguem este país com dignidade, atraves de um tijolo em cima do outro tijolo. Assim, as paredes que eles construírão acabarão fazendo barreiras para si mesmos, são barreira intransponíveis que nunca mais conseguirão ultrapassá-las, pois, lhes faltaram o que mais necessitavam na época, ou seja a Educação e sem esta educação o país afunda-se num mar de muita ignorância , causada pelo descaso de autoridades, que deveriam ter agido no tempo certo.
A criança o homem e o velho.Todos são vítimas das decisões mal tomadas. Das decisões unânimes. Das discriminações, das segregações e por fim, desinteresse pela cultura.
Dai, estamos assistindo os escândalos sendo revelados e um dos que está aí para editar as regras, as leis, é o próprio a causar indignação, pela falta de compromisso com o país, pelo gastança do dinheiro público, roubando os recursos existentes em benefício próprio.
Certa pessoa comentou este texto há uns anos e disse que ficou indignada ao ler este. Pelo que leu e pelo que vê todo dia na TV. As mentiras estão soltas. Cada um quer se safar da maneira mais deslavada existente, uns dizem, o pais está muito bem! outra diz a inflação está controlada! Só se for na casa deles, pois, aqui fora está um caldeirão. São preços aumentando a cada dia, gasolina, alçool, supermenrcado, farmácia e assim por diante.
O país está literalmente mergulhado na lama e esta já está bem no nariz. O que fazer diante de uma crise dessas? Se trabalhamos e recolhemos nossos impostos fielmente, mas, estes não são devolvidos em prol da sociedade. Os problemas existem, vão desde saneamento básico a infraestrutura.
O que mais tem escondido nos porões dos palácios Brasil a fora?
ABRAÇOS
ELIASJOÃO...!!!