O nosso querer - Um pouco do pouco que somos ou estamos.
Um dia quiz ser um astronauta, mas, isto foi há muito tempo. Lógico, ainda não sou, mas, continuo querendo.
Um dia quiz ser um escritor, ainda não sou, mas, também continuo querendo ser.
Um dia quiz ser um doutor, cuidar de doentes, não sou aquele médico que passa horas num hospital, cuidando de doentes e às vezes até se esquece de cuidar de sí mesmo.
Já fui muitas coisas na minha vida: Desde a tenra idade, passei por diversos estágios na vida. Fui lavrador, desde criança, morando na roça, fizemos as honras de quem lá vive. Desde os primeiros raios de sol, até ao meio dia de sol a pino e ao entardecer, várias atividades eram realizadas: desde fazer um roçado às margens de córregos, evitando que o mato se alastrace beneficiando a crescimento e ervas que eram maléficas para o gado, até apartar o próprio gado, para que o leite em suas tetas pudessem aculumar, para no outro dia bem cedinho fosse feita a ordenha. ou, realizar um conserto nas cercas de "arames farpados" , "coisa do capeta": já dizia um velho empregado, (Antonio Pó), quando se furava com esses arames. Outras vezes eram trabalhos de enxada mesmo, "serviços para quem nunca se modernizou" serviço pesado, ficar o dia todo fazendo esforços com as mãos e braços, suportando as dores lombares e quando ao dormir nem sequer movia-se, dormia de um lado só a noite inteira de tanto cansaço físico, mental e com o cérebro quase derretido pelo calor excessivo do sol. O pior de tudo é que naquela época já existia o coelho. "Coelho" era aquele empregado forte, que era contratado para dar auxílio no campo e fazer com que o acompanhássemos, era difícil para nós ainda adolescentes, acompanhar um cara de 30 anos ou mais no puxar de enxada.
Haviam trabalhos a fazer, mas, de uma certa hora da tarde, era hora do lazer. Tomar banho nos córregos era a predileção, além de realizarmos uma pescaria pelos rios da região. Divertidíssimo.
Galopar a cavalo, buscar o gado para o curral era a coisa mais desejada de todos nós, pois, naquela hora, era só diversão e no dia marcado para cada um, a partir daquela hora, não era mais necessário retornar para o trabalho. Aquele momento era único e alí dava para fazer uma horinha legal.
As noites eram frias e as manhãs mais ainda. Difícil era sair da cama com aquele frio todo. Muitas vezes saíamos da cama para ir ao curral tirar o leite do gado, muito frio e chuva, lama por todo lado, mas, era lei. Ninguém tinha privilégio de ficar deitado e desde as cinco horas já estávamos de pé, alí firmes e tremendo de frio, com as canelas magricelas expostas ao vento , frio e chuva. Mesmo assim, éramos felizes daquele jeito. Não conhecíamos outro modo de viver.
A fase rural estava quase no fim, era hora de trilhar outros caminhos e com promessas de novos tempos, perspectivas de melhorias, de pelo menos começar os estudos primários. Mudamos de sede. Agora as coisas pareciam diferentes. O rítmo ainda continuou o mesmo, acordar cedinho e permanecer no colégio até o meio dia. Retornar para casa, almoçar e em seguida fazer as tarefas que eram passadas. Os anos iam passando e as coisas pareciam que não estavam melhorando, mas, era preciso avançar e isto foi feito. Passou o pré, primeiro ano, segundo ano, terceiro ano e quarto ano.
A partir daí, com a aprovação no quarto ano primário, com direito à festas de formatura, fotos e tudo mais, chegou a fase seguinte, e uma espécie de vestibular, que na realidade era o famigerado "exame de admissão", credenciou-me a galgar a 5ª série ginasial, fui aprovado e agora estava matriculado. Muito colegas não conseguiram passar neste exame, mas, como a vida continua para todos, então cheguei até a oitava série, e novamente, depois de muitas anos, chegou a vez da festa de formatura, com direito a banda de músicos tocando e tudo mais. Foi uma memorável festa, nos padrões daquela época é claro.
Mas, nada poderia parar esse trem agora, estava mesmo sem freio. Busquei outros ares para dar continuidade aos estudos. Agora era o primeiro ano científico, como se dizia na época. Eram tres anos de estudos. Mudei-me até de cidade, mas, a luta ainda não teria sido a final. Fiz o primeiro ano e depois disso as coisas se apertaram e mesmo trabalhando de tratorista e saindo as 5 horas da tarde, pegar a Kombi e deslocar-me para Anápolis para estudar à noite e retornar na mesma. foi o ano inteiro nesta correria toda. Chegou o final do ano e tive que fazer uma pequena para nos estudos, foi mais ou menos em 1978. Fiz outra mudança, mudei-me de cidade, fui para Brasília tentar a sorte, abandonei a máquina que trabalhava efui em busca de trabalho melhor. Esta foi a pior fase, um fracasso total. Gastei o que não tinha, tentei até trabalhar como matador de instos e um belo dia, num apartamento daqueles no setor comercial sul, matando insetos, pulverizando o apartamento, passei mal com o veneno, me senti tonto e deitei-me no sofá, então me deram leite para beber. Passaram-se alguns minutos, saí dali um pouco tonto, mas, deu tudo certo, melhorei e fui-me embora. Consequentemente, desisti desse trabalho, era demais para mim. Após quase um ano perdido, e nem continuei os estudos e nem trabalhei, mas, com o meu retorno para a cidadezinha, fui trabalhar no trator e estudar à noite, então as coisas foram dando certo.
Terminei o segundo ano e resolvi fixar residência em Anápolis, pois, havia enxergado um novo horizonte, arrumei um emprego em uma loja de tecidos e fiquei por alí um tempo.
Fiz o terceiro ano normalmente, prestei o primeiro vestibular, mas, não fui aprovado.
Comecei a fazer cursinho de seis meses, então fiz no mesmo ano, dois vestibulares e no terceiro passei para direito.
No mesmo ano, me matriculei na Faculdade de Direito e estudando à noite, trabalhando durante o dia num emprego, na mesma cidade. O ano foi difícil, 1984 estava prestes a entrar numa nova onda de aumentos de mensalidades escolares, inflação alta e galopante. O dinheiro estava cada dia mais curto, então mudei-me para outra cidade, desta vez Goiânia, trabalhando como uma espécie de gerente de loja e assim sendo, morando em uma república só para homens, onde só aparecia ao meio dia e para dormir. Desde as 17:30 , era reservada para viajar de ônibus alugado até a cidade de Anápolis, chegando às 19:00 horas, para frequentar a Faculdade de Direito e foram longos dois anos indo e vindo, correndo todo tipo de perigo nas estradas, mas, graças a Deus, tudo deu certo. Retornava sempre para casa, trabalho, escola, casa. Uma rotina muito estressante, mas, impossível de pular esta fase.
O curso seguiu normalmente e então já no terceiro ano, tive que abandonar estas viagens de Goiânia a Anápolis e voltar a morar mais perto da escola e dos familiares. !987 foi o ano em que isso tudo ocorreu. Fiquei desempregado, porém, só estudando, fazer bico para pagar os estudos consegui chegar ao quinto ano da faculdade.
Formatura, colação de grau,festas, bailes e no dia seguinte: Me formei em Direito, mas, e agora? Primeiro, fizemos as provas da Ordem, fui aprovado e agora era hora de começar a ganhar um dinheirinho extra. Pensei comigo. Mas, a realidade mostrava outros horizontes , então associamos 5 colegas para dividirmos uma sala, porém não deu resultado e afinal tivemos que dissolver a sociedade e cada um para o seu lado.
No ano de 1989, foi a fase de muitas transformações na vida. Casamento muda muitas coisas. Contudo, a fase era ótima e no decorrer daquele mesmo ano, a transformação que seria vital a tudo até hoje, foi a mudança de estado. Começo de vida nova, emprego novo. Já em 1990 estava com emprego fixo e ganhando dinheiro. As coisas realmente mudaram de lá para cá. (continua...)
Ejedib
Enviado por Ejedib em 14/03/2012