APANHOU PARA NÃO CHORAR
"Apanhou para não chorar é mais uma das diversas histórias que aconteceram, mas, eram tristes, portanto, estão guardadas nos porões da memória e já diz o ditado: " Quem bate, esquece, mas quem apanha jamais". No caso a lembrança maior não seria minha.
- Não fui o mais danado, nem o mais encrenqueiro, nem o mais cheio de confusão. Sempre fui mais pacífico entre todos. Porém, quando se descobria uma arte traquina no âmbito familiar, sempre o "velho" queria saber quem foi o autor. E naquele "pega pra capar", às vezes sobrava para mim também. Quando "ele" chegava e a arte já tinha sido descoberta, era um "Deus" nos acuda. Ele era temido por todos, pois, agia sempre com violência e só de ouvi sua voz, todos já ficavam ressabiados, pois, ninguém sabia o que ele iria fazer conosco.
- Quando viajava para a cidade, sempre deixava uma tarefa para que fosse cumprida e naquela época, éramos ainda pequenos e eu mal conseguia suspender a grande enxada que era a minha ferramenta e ela causava dores nas costas, pois a posição de carpir nos deixam cansados, mas, aquela tarefa precisava ser cumprida e muitas vezes minha mãe ajudava terminar, mas, ele nunca ficava sabendo que ela ajudou. Ela temia que, após ele chegar da cidade encontrasse o serviço inacabado e se isto acontecesse ele iria nos surrar como pena por não cumprir as suas ordens.
- Tarefas estas, por exemplo: carpir o quintal, onde o mato sempre cresce, mas, era um trabalho rotineiro e debaixo daquele sol e com picadas de mosquitos pólvora que não nos deixavam um só momento, eles atacam nos ouvidos, olhos, pernas etc.
- Desta vez ainda não aconteceu de deixarmos de cumprir as suas ordens. Pois, com a ajuda da mãe, tudo ficava resolvido e esse dia passou. Ela sempre nos ajudava, justamente por conhecê-lo muito bem. Ás vezes ela intervinha, para que parasse o tal 'samba lele", era assim que ele se referia àquilo.
- Fato mais curioso foi quando entramos numa rodada de "peia", não escapou ninguém. ele começou pelo mais velho, passou pelo segundo e surrava com seu cinturão de couro e era em círculos e além disso, o menino vestia uma camisa mais grossa para não doer muito, mas, ele pedia para tirar e batia nas costas , mandava descer as calças e batia também nas pernas, mas, o menino não chorava e fechava a boca e isto enfurecia mais o velho. E para completar, as meninas estavam achando graça e rindo nos cantos, então quando ele percebia e dizia: "Ah! vocês estão achando bom? está divertido? então venham aqui! "fulano; sicrano e beltrano". Ele sempre chamava por nome na hora da peia.
- Outro fato curioso: Era num mês de julho de 1968 ou 1969, mais ou menos por aí. O velho teria sido convidado para uma festa de casamento de um vizinho de fazenda. Era o filho do seu Geraldo quem iria se casar. Mas, ele não levaria todos e nem a esposa foi. Levou consigo o mais velho. Nós, porém, ficamos em casa. Passava das 14 horas e eles já teriam saído. Mas, a vontade de ir era tão grande, porém, não fomos autorizados por ele. Então falamos com a mãe e ela nos autorizou a irmos até a casa da vó, que ficava a uns 5 km de nossa casa. Chegando lá cumprimentamos a vó e pedimos para ir aos pés de manga e ela deixou. Fomos brincar nos galhos das mangueiras e entre chupar uma manga e outra, o garoto, que não era eu resolve fantasiar a brincadeira e começou a pular nos galhos e imitar o Tarzan!!! Foi uma fatalidade!!! Gangorreou uma vez, duas, três vezes, mas, quando foi pela quarta vez, os punhos já estavam mais fracos e como o galho era grosso ele se soltou e foi lançado de costas e com os braços para traz e Puf!! Caiu por cima do seu braço esquerdo que, na hora não percebemos se havia quebrado, mas, a preocupação minha foi muito grande, pois, ele chorava muito e tentava segurar o braço, eu não sabia o que pensar e nem como agir tinha apenas oito anos e ele 10 mais ou menos. Mesmo assim fomos até à nossa vó e ela recomendou que fossemos embora para casa. O garoto estava muito pálido e sem uma gota de sangue no rosto. Fomos andando no trilho que dava acesso à fazenda, mas, muito preocupados com o que sucederia. Chegando lá, a mãe logo tratou de colocar algo como faixa, para ver se diminuía a dor e a pressão sobre o braço. Os momentos de angústia em vê-lo daquele jeito foi terrível e o mais angustiante dos momentos estava por vir.
- Com a chegada do velho, o momento ficou mais angustiante, pois, ao saber que havíamos desobedecido as suas ordens e ido até a casa da vó, sem a sua autorização tornou-se um momento crucial e decisivo para o começo de sua fúria. Mesmo estando o garoto com seu braço quebrado no cotovelo ele ainda lhe deu uma surra, e mesmo que a mãe tentasse resolver a situação , alegando que teria nos mandado até lá com a finalidade de buscar um pouco de açúcar, não colou. O garoto apanhou assim mesmo e ainda pedia para que não gritasse e batia para parar de chorar. Eu também como cúmplice daquele fatídico passeio, também entrei na dança e ele prometeu me pegar. Só que, naquela hora, o mais importante era dar um jeito naquela situação, eu tive que sumir no quintal para não ser surrado. Fiquei apreensivo naqueles instantes, pois, achei que não escaparia daquela peia. - " Eles foram para Brasília, com a finalidade de buscar o tratamento adequado para aquela ocasião" - Chegaram de lá no outro dia e com o braço todo engessado, já não doía mais como antes.
- Mas, contudo, era preocupante a situação e fiquei apreensivo pois, ainda era recente o acontecido e fiquei cabreiro quanto aquele fato, e meio angustiado, pois, não sabia se ainda iria levar aquela prometida surra ...!!!
- O tempo passou, mas, aquilo nunca mais foi esquecido e parece que foi ontem.
Ejedib
Enviado por Ejedib em 23/05/2008
Alterado em 03/06/2008